Blog do Alex Ramos
O médico e os irmãos Inácio da Silva: a lei não é para todos? |
Por Joaquim de Carvalho
Viralizou na internet o depoimento do médico
Jorge Abissanra, oncologista que atendeu a Genival Inácio da Silva, o Vavá, até
sua morte, na última quarta-feira.
É um depoimento que deveria cobrir de
vergonha as autoridades que se empenharam em pareceres e decisões que
resultaram na negação a Lula de um direito que não se nega a ninguém a 2 000
anos: velar os seus mortos.
Jorge contou que esteve no velório, em
respeito ao paciente e à família dele, com quem conviveu nos últimos meses, e
ficou na expectativa de que Lula pudesse estar presente e chorar a morte de
Vavá. Disse ele:
— Fui talvez umas das primeiras pessoas a saber de seu falecimento e na
hora me veio uma pergunta. E agora? Será que vão deixar Lula vir vê-lo? Não
sabia como funcionava a legislação brasileira sobre o tema. Pois bem, fui atrás
e descobri que só em 2018 185 mil presos saíram pra ir a enterro de parentes no
Brasil. Isso mesmo, 185 mil. Como havia sido convidado pelo família, fui ao
velório em respeito a meu paciente e sua filha e lá vi tamanha consternação de
seu famoso irmão não estar presente. Me fica uma dúvida. Independente de minha
opinião política sobre Lula e independente da de qualquer um, fiz meu papel de
médico com o maior carinho, profissionalismo e dedicação possível. Não será que
deveria também ser esse o papel do judiciário? Se 185 mil custodiados no último
ano puderam participar de homenagens aos seus entes falecidos por que não Lula?
Me amedronta quando a justiça parece não fazer justiça e soa como se estivesse
fazendo vingança. Como médico e defensor da vida não podia deixar de fazer esse
relato. A lei e pra todos.
Doutor Jorginho, como é conhecido, viu de
perto que Vavá não é nem de longe o que a velha imprensa descreveu, 2005, auge
do mensalão, como um grande lobista dos negócios do governo. Afirmou:
— Nesses
últimos dias tive um paciente ilustre, seu Genival Inácio da Silva, o Vavá,
irmão de Lula. O atendia no SUS, senhor sempre simpático, com vestes simples,
humilde e acompanhado sempre de sua adorável filha Andreia. Ele nunca me disse
que era irmão do ex-presidente mas todos obviamente sabíamos. Já muito
debilitado pela doença avançada, sem uma das pernas amputadas pela câncer, Vavá
parecia dar de ombros pela situação que o acometia. Sempre tinha um sorriso no
rosto e um olhar alegre pra transmitir.
Em 2005, quando Vavá foi apresentado pela
Veja como lobista de grandes negócios no governo, eu trabalhava na equipe de
Boris Casoy no Jornal da Record e fui escalado para a reportagem de repercussão
da “denúncia” da revista.
Ao chegar na casa de Vavá, vi que não fazia
sentido a notícia de que ele era um grande lobista. Era um imóvel simples, num
bairro pobre de São Bernardo do Campo, e aquela notícia não fazia sentido.
Logo depois, a denúncia da revista caiu no
esquecimento, como tantas outras feitas para desgastar Lula e o seu governo.
Jorge Abissanra é médico experiente e é de
uma família de políticos, nenhum deles ligado ao PT.
Seu pai foi prefeito de Ferraz de
Vasconcelos pelo PSB, e ele chegou a ser candidato a vice-prefeito de Suzano em
2016, também pelo PSB.
Num momento de desgaste do PT, com Lula
preso, politicamente talvez fosse melhor para Jorge Abissanra silenciar, como
tantas outras pessoas em posição de destaque fazem neste momento.
Mas, segundo ele, moralmente não seria
possível:
— Como médico e defensor da vida não podia deixar de fazer esse relato.
A lei e pra todos.
A Lei É para Todos… Muito mais que um título
de filme, que uma peça de propagada destinada a manipular o povo.
Com seu relato, Jorge Abissanra foi correto
e não se acovardou, e isso não é pouca coisa no Brasil de hoje.
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