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quarta-feira, 26 de junho de 2019

A SOCIEDADE É VÍTIMA DOS BANDIDOS, NÃO O CONTRÁRIO


Blog do Alex Ramos
 Tentativa de assalto terminou com o assassinato e motorista no Rio Foto: Guito Moreto / Agência O Globo - 24/10/2017
“Vítima”, me informa o dicionário sobre minha mesa, é alguém que sofreu um dano, desgraça ou infortúnio, ou alguém contra quem se cometeu um crime. Crime, aliás, é algo que existe de sobra no Brasil, mesmo com as reduções dos índices que parecem estar acontecendo este ano. Nos três estados mais populosos da federação — São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro — foram registrados 243 mil roubos entre janeiro e maio de 2019. Dá uns 1.600 por dia. Pouco mais de um por minuto. E isso são apenas os registros: não entram na conta os casos que nem passaram pela porta da delegacia. Pelo padrão dicionarístico, as pessoas que foram assaltadas são entendidas como vítimas. Pelo padrão policial/jurídico, idem. E o criminoso, aquele sujeito que aparece como “autor” no registro de ocorrência? Ah, esse é uma vítima da sociedade, foi empurrado para o crime pela desigualdade social, a falta de oportunidades. Será?
Não vou entrar na discussão se Jean-Jacques Rousseau estava certo ou errado ao dizer que os homens nascem bons e a sociedade os corrompe. Nem analisar teorias como o Labelling Approach. Ou sugerir a retomada das teses de Lombroso no “L’Uomo delinquente”. Não sou sociólogo nem tenho estofo teórico para isso. A questão, aqui, é mais numérica e prática. Se em apenas três estados da federação há um registro de roubo por minuto — e não estamos falando de furtos, estelionatos, estupros, homicídios, tráfico de drogas — isso leva a uma constatação óbvia: tem muito bandido nas ruas e eles estão à vontade. Não se pode dizer o mesmo dos infelizes etiquetados com o rótulo “vítima”.
Pobreza não empurra ninguém obrigatoriamente para o crime. Fosse assim, teríamos um roubo por décimo de segundo — além de ser um desrespeito às pessoas honestas em geral e às pessoas honestas e pobres, em particular. Falta de oportunidade ou desemprego, também não — os 13 milhões de brasileiros no desemprego e correndo atrás de uma chance são a prova disso. Duvido ainda que haja uma correlação entre banditismo e nível socioeducacional, cor da pele, orientação sexual, endereço. Acho pouco provável que pessoas boas e de coração puro estejam tenham sido levadas a botar armas na cara de outras pessoas e subtrair suas carteiras pelo sistema capitalista selvagem. O que anaboliza o bandido é a certeza do ganho e a baixa chance de ser pego — e, caso seja, a punição branda.
Quando a polícia do Rio só abre um inquérito a cada 23 registros de roubo , isso significa na prática que o ladrão tem 96 chances em cem de escapar e nem ser identificado.
E, mesmo quando o criminoso é punido, há sempre a mão carinhosa do Estado para fazer um afago. Que o diga o senador Acir Gurgacz, condenado por crimes contra o sistema financeiro, cumprindo pena em regime domiciliar e agora autorizado pela Justiça a passar uns dias de férias num resort no Caribe .
Eu poderia dizer que isso é um escárnio, uma vergonha, mas direi que é apenas reflexo de uma sociedade que louva Lampião, o Rei do Cangaço, um homicida e ladrão, mas desconhece o nome do policial que o matou.
O fato é que ninguém é bandido por esporte ou por necessidade. Quem escolhe o crime como meio de vida é responsável pelo que faz e sabe que está fazendo algo errado. Já passou da hora de a sociedade e o Estado tirarem as metafóricas rodinhas da bicicleta e deixarem que cada um assuma seus atos e aguente as consequências. Não dá é para continuar passando a mão na cabeça e tendo bandido de estimação, esteja ele solto num morro ou preso numa cela da Polícia Federal em Curitiba.

COLUNA | GIAMPAOLO MORGADO BRAGA


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Luzimar Rodrigues