BRASÍLIA - O ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu exoneração nesta sexta-feira. O anúncio foi enviado pela comunicação do ministério, após Teich se reunir com o presidente Jair Bolsonaro no fim da manhã de hoje, no Palácio do Planalto. De acordo com a assessoria do órgão haverá uma coletiva de imprensa nesta tarde.
Minutos antes de a informação ser divulgada, o presidente participou do lançamento de uma campanha de conscientização e enfrentamento à violência doméstica no Salão Nobre do Planalto, ao lado da primeira-dama e de alguns ministros. Diferentemente do que geralmente ocorre em eventos como esse, Bolsonaro não discursou na solenidade. Apenas a ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves, e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, discursaram. Ele também deixou o local sem falar com os jornalistas.
última quarta-feira, Teich faria uma coletiva para anunciar a matriz de isolamento proposta aos estados, mas acabou cancelando a reunião após não conseguir estabelecer consenso com secretários estaduais e municipais.
O médico estaria isolado na pasta, sem apoio da área técnica do ministério e alvo de críticas dentro e fora do governo. Teich era visto por gestores dos estados como uma "decepção geral". O ministro chegou ao órgão em abril para substituir Luiz Henrique Mandetta, demitido após divergências com o presidente Jair Bolsonaro.
Segundo assessores da Presidência, Bolsonaro queria desde o início da crise com Mandetta emplacar o ex-ministro da Cidadania e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) na Saúde, mas desistiu porque o nome do parlamentar encontrou resistência dentro do Palácio do Planalto.
No Twitter, Mandetta comentou o pedido de demissão de Teich, pedindo orações, paciência, fé, ciência e saúde. "Oremos. Força SUS. Ciência. Paciência. Fé! #FicaEmCasa", escreveu.
Uso de cloroquina desgastou relação
Além do desgaste na relação com os gestores estaduais e municipais, Teich também passou a ser alvo de ataques nas redes sociais por apoiadores do presidente. Um dos motivos principais da indisposição com a base de apoiadores de Bolsonaro foi sua posição em relação ao uso da cloroquina. A hashtag #teichliberacloroquina chegou a ficar entre os assuntos mais comentados do Twitter.
Na quarta-feira, o presidente Bolsonaro afirmou que ia discutir com o ministro o protocolo da pasta em relação ao uso da droga. Nos últimos dias, o ministro reforçou a posição dada pelo Conselho Federal de Medicina de que não há estudos suficientes para recomendar o uso da droga no tratamento.
Cloroquina: Teich diz que cloroquina ainda é incerteza
Prestes a completar um mês no cargo, Teich não concordava com a possibilidade de dar aval à orientação para que o medicamento seja administrado desde os primeiros sintomas da doença, e demonstrou incômodo com a insistência do mandatário do Palácio do Planalto.
Bolsonaro tem feito pressão para que o ministro faça mudanças na norma da pasta, que hoje só autoriza a utilização da cloroquina em pacientes em estado grave. A nota técnica, assinada no fim de março, ainda sob a gestão de Luiz Henrique Mandetta, diz que a cloroquina e hidroxicloroquina podem complementar “os outros suportes utilizados no tratamento” do novo coronavírus. O protocolo prevê que elas sejam usadas durante cinco dias apenas em pacientes hospitalizados. O texto destaca que os medicamentos não são indicados para prevenir a doença e nem tratar casos leves.
Teich reiterou, em diversos momentos, ser contra o uso da cloroquina no estágio inicial da Covid-19. Na terça-feira, por exemplo, o ministro foi ao Twitter para alertar sobre os riscos aos pacientes que autorizarem a administração da droga. “Um alerta importante: a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais. Então, qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica. O paciente deve entender os riscos e assinar o “Termo de Consentimento” antes de iniciar o uso da cloroquina”, escreveu na rede social.
No dia anterior, em entrevista coletiva, Teich já havia dito que o Ministério da Saúde não recomenda o uso do medicamento porque ele não tem eficácia científica comprovada, mas também não proíbe seu uso.
A pressão de Bolsonaro e a resistência de Teich impulsionou, dentro e fora do governo, as especulações sobre uma nova mudança no Ministério da Saúde. Aliados do presidente, no entanto, estavam atuado para evitar a saída do oncologista e construir uma saída intermediária para o impasse.
Setores do governo e do Congresso avaliam que uma troca no momento em que a curva de casos da doença está em franca ascensão no país tende a ser ainda mais desastrosa para Bolsonaro.
A busca por uma solução que alinhe Teich e Bolsonaro também passava pela avaliação de integrantes do governo de que as opções do presidente para o comando da Saúde estão cada vez mais restritas. Além da cloroquina, Bolsonaro também defende o afrouxamento das regras de isolamento social no país.
Teich dedicou grande parte de sua agenda à elaboração de um plano para relaxar as regras de restrição de circulação de acordo com as diferentes realidades no país. O ministro, no entanto, não conseguiu apoio de estados e municípios.
Nesta quinta-feira, Bolsonaro disse que vai determinar ao Ministério da Saúde que libere o uso da cloroquina para pacientes que não estejam ainda em estado grave. Ao falar por videoconferência a empresários de São Paulo, o presidente cobrou do ministro Nelson Teich que altere protocolo ainda da gestão anterior.
- Se o Conselho Federal de Medicina decidiu que pode usar cloroquina desde os primeiros sintomas, por que o governo federal via ministro da Saúde vai dizer que é só em caso grave? Eu sou comandante, presidente da República, para decidir, para chegar para qualquer ministro e falar o que está acontecendo. E a regra é essa, o norte é esse. Eu não estou extirpando nenhum ministro, nunca fiz isso, e nem interferindo em qualquer ministério, como nunca fiz --disse Bolsonaro gritando.
O presidente afirmou que a decisão caberá a ele mesmo.
- Votaram em mim para eu decidir. E essa decisão da cloroquina passa por mim. E mais do que pedir... Tá tudo tudo bem com o ministro da Saúde, tá tudo sem problema nenhum com ele, acredito no trabalho ele, mas essa questão vamos resolver. Não pode um protocolo de 31 de março agora, quando estava o ministro da Saúde anterior dizendo que era só em caso grave, a gente não pode mudar protocolo agora... Pode mudar e vai mudar. Por que vai mudar? Em comum acordo com o ministro da Saúde. Porque o Conselho Federal de Medicina diz que tem que ser feito dessa maneira.
Jornal Extra
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