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domingo, 7 de junho de 2020

Dez atitudes e hábitos positivos que a pandemia de Covid-19 trouxe para ficarem em nossas vidas

Blog do Alex Ramos
Muito se fala em “novo normal”, expressão que resumiria a vida cotidiana após o controle da pandemia de coronavírus. Mas, para alguns especialistas, o chamado “novo normal” já chegou. São atitudes e hábitos adquiridos nesse tempo de confinamento que serão levados para o dia a dia, quando todas as atividades estiverem retomadas, numa espécie de “legado” do coronavírus. A Covid-19 trouxe muita dor e sofrimento, com a perda de milhares de vidas, despertando, por outro lado, sentimentos de solidariedade e apego ao próximo.
Hábitos impostos, como a higienização frequente das mãos, são apontados pelo médico e infectologista Edimilson Migowski, como algo já incorporado ao dia a dia. E foi na pandemia que ficou em evidência a importância de profissionais de atividades essenciais, não só trabalhadores da saúde, mas também garis e entregadores. Para a psicanalista Andrea Ladislau, muitas mudanças ocorridas neste momento são transitórias, mas outras vieram para ficar. Profissionalmente, destaca o home office, que vai se expandir; no campo pessoal, destaca uma mudança na relação entre as pessoas e delas com o mundo.
— É uma chance de construir novos conceitos e desconstruir conceitos antigos e destrutivos para ressignificar o ser humano — aponta a psicanalista.
1. VALORIZAR O OUTRO
A letra de “A cura tá no coração”, de Gabriel o Pensador, cujo clipe foi lançado na pandemia com participação da gari Vera Lúcia, resume um a percepção, mais presente durante a pandemia, da importância de pessoas que antes estavam à margem ou pareciam “invisíveis”, como profissionais da limpeza. “Que a gente entenda que a riqueza não é o dinheiro/E que os guerreiros de todos os serviços são essenciais/ E que lembrem disso nos dias normais”, diz a canção.
— Nós dependemos dos outros, devemos respeitar mais, ser mais generosos — explica o artista.
3. NOVAS HABILIDADES
A cantora Laura Finocchiaro vem estudando em casa, no Humaitá, novos softwares para desenvolver lives, vídeos e transmissões. Deu início, em seu estúdio caseiro, sem ajuda externa, à gravação do novo álbum, cujo single “A vagar” já está nas plataformas digitais. Mas, o maior aprendizado não veio da tecnologia. Obrigada a se dedicar aos afazeres domésticos, adquiriu novas habilidades culinárias e tomou para si a missão de faxinar a casa e lavar roupas:
— São coisas que vão ficar. Descobri que fazer a própria comida é menos consumo, mais saudável, um momento de reflexão.
4. RESGATE DO AFETO
A psicanalista Andrea Ladislau destaca, entre as mudanças da quarententa, o resgate do afeto, seja pelo amigo que já não vê, pelo parente isolado e até pelo que divide o mesmo teto e que, na rotina corrida, não recebia tanta atenção. Ela admite estar mais próxima das filhas, de 8 e 20 anos. E lembra que a tecnologia tem papel fundamental:
— Muita gente está recorrendo mais aos contatos por WhatsApp, videoconferência ou telefone, matando a saudade, falando com pessoas com quem não falava há tempos. O contato entre filhos e pais que trabalhavam fora mudou com o home office.
5. ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
Comer — o que cozinhou — em casa virou a regra. E evitar desperdício de alimentos tem sido o diferencial para quem perdeu renda na pandemia e também quer reduzir as idas ao mercado. Sem a tentação do fast food, a população está se alimentando de forma mais saudável, o que melhora a imunidade também. Regina Tchelly, idealizadora do projeto Favela Orgânica, acredita que a prática veio para ficar. O projeto estimula o aproveitamento integral dos alimentos, inclusive cascas, talos e sementes. Da abóbora, por exemplo, se aproveita tudo: a casca ralada vira um creme, os fiapos engrossam risotos e sucos, e a semente vira farinha, ensina.

— Nesse momento, mais do que nunca, as pessoas precisam de comer um alimento mais saudável, menos gordura e menos açúcar, com mais cores nos pratos e vegetais — diz.
6. CUIDAR DO CORPO E DA MENTE
Muita gente que passava longe da academia começou a acessar canais de exercícios físicos online para fazer em casa. Manter o corpo e a mente ocupados e sãos tem sido fundamental para manter o equilíbrio na quarententa. A terapeuta e professora de ioga Daniele Barbosa, de 33 anos, que mora em Petrópolis, aproveita o fim de tarde para praticar ioga e massagear com óleos a filha Maria Flor, de 4 anos. Para as duas, é uma forma de reduzir a tensão e reduzir o impacto do contato maior que a menina está tendo com telas de TV e celular. Daniele pretende manter a prática quando o confinamento passar.
— Eu praticava ioga, mas não era uma coisa do dia a dia. Com a quarentena, se tornou mais frequentes e passamos a fazer juntas. É um momento de autocuidado. Agora adquirimos essa rotina.

7. CUIDADOS COM A PREVENÇÃO
Para o médico infectologista, Edimilson Migowski, um dos “legados” da pandemia será o cuidado com a prevenção a doenças. A higienização das das mãos e o distanciamento seguro dos outros, ele acredita que são hábitos que ajudarão a baixar os índices de algumas doenças infectocontagiosas já a partir do ano que vem.
O fotógrafo Hélcio Peynado, de 56 anos, morador de Campo Grande que coleciona máquinas fotográficas antigas, passou a lavar as mãos com muita frequência e pretende levar o hábito para a vida:
— Mexo com graxa e produtos químicos, então sempre tive essa preocupação de lavar as mãos. Mas agora esse cuidado vai ser redobrado.
Migowski prevê ainda que, depois da Covid-19, a população vai passar dar ainda mais importância às vacinas, até porque aguarda ansiosamente pela descoberta de uma que afaste o ameaça do novo coronavírus de suas vidas.
8. DESAPEGO E SOLIDARIEDADE
A fotógrafa Malu Ravagnani, de 60 anos, tomou uma decisão radical durante a pandemia: a cada roupa nova que entrar no seu guarda-roupa, uma peça mais antiga vai ser doada. Com mais tempo livre e em casa, a moradora de Campo Grande descobriu que tem muita coisa guardada e sem uso que poderia ter utilidade para outras pessoas. Então, reuniu vestidos, calças, blusas, calçados, bijuterias e objetos como discos e DVDs que encheram as seis bolsas. Tudo será levado para o brechó de um orfanato do bairro. A arrumação foi útil para Malu redescobrir fotos importantes feitas para uma exposição sobre o bairro. A prática do desapego e da solidariedade foi um aprendizado que vai ficar, promete:
— Gostei de ter feito (a limpeza nos armários) e recomendo a todos desapegar das coisas que não usa mais e doar para quem precisa.
9. DIVIDIR AS TAREFAS DOMÉSTICAS
Muitas famílias aproveitaram para distribuir as tarefas domésticas. E ninguém fica de fora. Crianças não muito pequenas e adolescentes podem — e devem — arrumar o seu quarto e ajudar na arrumação da casa. A artesã Cristiane Amanda Oliveira Barbosa, de 33 anos, vivia da venda das bolsas que ela mesma fazia. Sem demanda, precisou se reinventar costurando máscaras e, agora, gorros, que estão garantindo a renda da família. Ficou com o marido, Matheus Chaves Pires, de 24 anos, a maior parte dos cuidados com a filha, Ariel, de 2, e as tarefas do lar. O rapaz, que já cozinhava, já até se arrisca em receitas sofisticadas. E aproveitou esse período para fazer pequenos reparos na casa.
— É uma experiência que vai ficar. Estou buscando curso de culinária e de hidráulica na internet para fazer. Está sendo bom participar mais do dia a dia da família — disse o morador de Campo Grande, que ficou desempregado em dezembro.
10. VALORIZAR O PROFESSOR
A atriz e escritora Gisela de Castro, de 46 anos, sempre participou da educação da filha, Lara, de 11, mas o ensino à distância, nesta pandemia, a fez se envolver ainda mais. Isso a levou a valorizar ainda mais o papel dos professores, que se viram na difícil missão de, da noite para o dia, transformar suas aulas em 100% digitais. No começo, admite, foi difícil para todo mundo. Mãe e filha precisaram aprender a lidar com aplicativos para encontrar as tarefas de cada disciplina. E no 6º ano do ensino fundamental, primeiro em que há um professor para cada matéria, haja organização para dar conta de tudo! Mas agora a menina já resolve tudo sozinha.
— Os professores estão ralando e muito. Acho que depois dessa pandemia os pais vão valorizar mais o trabalho deles, sabendo como é difícil ensinar. Não é só ligar um computador. O papel do professor é fundamental — reconhece a moradora do Humaitá.
Do Extra

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Luzimar Rodrigues