Blog do Alex Ramos
Com 57 dos 78 votos, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, foi eleito nesta segunda-feira o novo presidente do Senado. Ele derrotou Simone Tebet (MDB-MS), que teve 21 votos. Advogado de formação, Pacheco está no primeiro mandato como senador. Antes, atuou como deputado federal por quatro anos. Para romper a fama de novato, a articulação costurada com governistas e oposicionistas por seu antecessor, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foi fundamental.
Em discurso feito momentos antes da votação, Pacheco afirmou que terá uma gestão independente em relação aos outros poderes e que não haverá "nenhum tipo de pressão externa". Segundo ele, "governabilidade não significa ser subserviente ao governo". Pacheco também assumiu um compromisso pela defesa intransigente do Estado Democrático de Direito.
Ao mesmo tempo, o senador mineiro disse que a sua gestão, formada com alianças de diferentes correntes ideológicas, pode ser uma oportunidade de "pacificação" das relações políticas:
— Vamos fazer disso uma grande oportunidade, uma grande oportunidade singular de pacificação das nossas relações políticas e institucionais porque é isso que a sociedade brasileira espera de nós.
Defensor de uma nova rodada do auxílio emergencial durante a pandemia do novo coronavírus, Pacheco disse que é preciso tentar conciliar o teto de gastos públicos com a área da assistência social, mantendo o diálogo com a equipe econômica para buscar soluções.
— Não podemos desconhecer que, a despeito do compromisso da responsabilidade fiscal e do teto de gastos públicos de índole constitucional, nós temos uma obrigação de reconhecer um estado de necessidade no Brasil que faz com que milhares de vulneráveis, milhares de miseráveis precisam do atendimento do Estado. De modo que nos primeiros instantes, caso vossas excelências me outorguem o mandato de presidente, nós vamos inaugurar um diálogo pleno, efetivo e de resultados, porque isso é para ontem, para que se possa conciliar o teto de gastos públicos com assistência social num dialogo junto com a equipe econômica do governo federal — declarou.
Nos primeiros anos de sua carreira pública, Pacheco ganhou rápida notoriedade no Congresso ao ocupar a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, em 2017. O então deputado era filiado ao MDB. Ele teve a sua atuação no colegiado elogiada até mesmo pela oposição ao conduzir as denúncias contra o ex-presidente Michel Temer, na época seu correligionário.
Na véspera da eleição desta segunda, Pacheco ainda tentava contemplar interesses de todos os aliados, que juntos representam mais de dez partidos. Na reta final, ele dividiu e conquistou votos até mesmo na sigla de sua principal adversária, Simone Tebet (MDB-MS), que acabou sem apoio dos emedebistas e optou por manter a candidatura de forma independente.
Encabeçada pelo atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), a estratégia de campanha de Pacheco foi se antecipar aos movimentos dos adversários. Assim, ele saiu na frente ao conquistar o apoio de partidos expressivos, como PSD e PT, antes mesmo dos emedebistas decidirem quem seria o seu representante na eleição.
Além disso, após o MDB lançar a candidatura de Simone, Pacheco iniciou uma ofensiva sobre os possíveis aliados da emedebista. A estratégia contou com a influência do Palácio do Planalto em momentos decisivos, entre eles o anúncio do PSDB de que iria liberar a bancada na eleição, sem se comprometer com nenhuma candidatura. Dias antes, tucanos garantiam que iriam endossar o nome do MDB.
Outro momento simbólico que pesou a favor de Pacheco recentemente foi conquistar o apoio da Rede, legenda que possui apenas dois senadores, mas que se coloca contra a gestão Jair Bolsonaro e tem certo alinhamento com Simone. Em nota, o senador Fabiano Contarato (ES) justificou o voto ao dizer que não há candidatura de oposição na disputa que pudesse propor "uma alternativa de clara objeção ao governo federal".
Em entrevista ao GLOBO, há uma semana, Simone negou a existência de qualquer ameaça à democracia no momento, evitou se comprometer com um eventual processo de impeachment de Bolsonaro e destacou que apoiou mais propostas do Executivo do que o próprio Pacheco. No discurso, a parlamentar seguiu orientações de caciques do MDB, que defendiam um tom de moderação em relação ao Planalto.
Na semana que antecedeu a eleição, aliados de Pacheco deram a cartada final na corrida pela presidência ao fazer com que o MDB, maior partido da Casa, com 15 senadores, desistisse de manter candidatura própria. Simone, no entanto, decidiu seguir com a candidatura avulsa, com o apoio formal do Podemos, Cidadania e PSB. Até dois dias antes do pleito, entretanto, emissários de Pacheco e Alcolumbre ainda tentavam convencer a parlamentar a desistir por avaliar que a presença da senadora causa 'constrangimento', mas ela indicava estar irredutível por avaliar que precisa marcar posição.
Com o embarque do MDB na campanha, mesmo que sem apoio oficial, Pacheco também passou os últimos dias buscando uma forma de incluir os emedebistas na sua gestão. Eles devem assumir a vice-presidência da Casa, representados por Veneziano Vital do Rêgo (PB), e outros cargos. A eleição para a composição da Mesa Diretora está prevista para ocorrer nesta terça-feira.
Do Extra
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