Blog do Alex Ramos
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Cordeiro (à frente) publicou foto ao lado do marido para comemorar seis anos de relcionamento Foto: Reprodução/ Instagram |
Quando postou em seu
Instagram, no início deste mês, uma foto abraçado com seu marido para
comemorar os seis anos de relacionamento, o major do Exército Emerson
Cordeiro queria compartilhar sua felicidade. Mas, além das 110 curtidas
que a imagem recebeu, ela foi usada para iniciar uma campanha homofóbica
on-line.
Cordeiro, que vive em Campo Grande (MS), relatou o caso
em seu Facebook, e seu depoimento viralizou — já ganhou 68 mil curtidas.
Nele, conta que a imagem foi reproduzida em grupos on-line, inclusive
de colegas de farda, com o intuito de ofendê-lo e de "disseminar o
ódio".
Casado
desde 2018, o major diz ter informado seus superiores no mesmo dia em
que assinou os papéis no cartório. O anúncio, à época, "foi tratado
naturalmente, sem alarde", diz ele.
A publicação da foto, no entanto, não foi recebida com a mesma naturalidade.
"Postei
em meu perfil privado do Instagram, pois estava num momento de muita
felicidade e realização e achei por bem externar essa felicidade. Em
rede social nada é privado, e poucos momentos depois um dos então
'amigos' do Exército Brasileiro que estava em minha rede deu um print da
postagem privada e divulgou em um grupo de mensagens e daí em diante
viralizou a imagem por outros grupos, formados na maioria por
militares", escreveu no Facebook.
Cordeiro conta que, em seguida,
começou uma repercussão entre militares que "jamais imaginavam que um
oficial de carreira do Exército pudesse assumir sua homossexualidade,
ser feliz e realizado no trabalho".
"Isso foi um soco no estômago
dos porcos homofóbicos que nos rodeiam e nos sondam muitas vezes
anonimamente, inconformados com a felicidade alheia", diz Cordeiro, em
seu post.
Na publicação, o major afirma seu amor pelo Exército
Brasileiro, diz que é uma instituição de "pessoas honradas" e que vem
evoluindo em sua aceitação aos integrantes gays. Pondera, no entanto,
que ainda há militares que não se conformam com a mudança de pensamento
atual e os acusa de ter "medo de despertar para seus desejos proibidos".
Procurado
pela reportagem, o major não retornou até a conclusão deste texto. Em
nota, o Exército afirmou que "não discrimina nenhum dos seus
integrantes, em razão de raça, credo, orientação sexual ou qualquer
outro parâmetro. Os militares têm seus direitos assegurados na forma do
que está previsto no ordenamento jurídico vigente".
No Brasil, os
homossexuais são formalmente aceitos nas Forças Armadas e há casos de
militares gays e lésbicas que tiveram os cônjuges oficialmente
reconhecidos como dependentes. O preconceito que os cerca, no entanto,
nunca deixou de existir.
'Muitos sofrem calados'
Membro do
9º Batalhão de Comunicações e Guerra Eletrônica, o major também
criticou a perseguição anônima que vem sofrendo, atribuindo-a a colegas
de Exército. "Nem parece que passamos pela mesma honrosa Academia
Militar das Agulhas Negras, onde esconder-se no anonimato era um dos
atos mais vergonhosos".
Ele também agradece aos que estão
compartilhando a imagem, "por mostrarem as outras pessoas o seu desejo
reprimido, sua inveja magoada por minha felicidade e toda a sua pobreza
de espírito".
Cordeiro diz estar "pagando o preço de ser livre".
"As portas da liberdade foram abertas e é lógico que os primeiros que
ousarem atravessar essa trincheira sentirão as sequelas das línguas
afiadas, dos olhos que fuzilam o diferente, do medo de não poder mais
ser igual."
Em um post mais recente, da noite deste domingo (17),
ele afirmou não ser o único a sofrer com ataques homofóbicos, mas diz
que outros oficiais, com posições hierárquicas distintas, podem ter tido
medo de trazê-los a público, como ele fez.
"Muitos já passaram
por isso, sofrendo calados esse tipo de perseguição, pois devido a seu
momento na carreira, aspirações e estabilidade não podiam se
manifestar."
Do EXTRA
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