O presidente Jair Bolsonaro deu entrevista para a jornalista Leda Nagle Foto: Reprodução |
Questionado
sobre o que fazer para resolver a violência no Rio e no Brasil, em entrevista para o canal do YouTube da
jornalista Leda Nagle, publicada nesta segunda-feira, o presidente Jair
Bolsonaro afirmou que vai enviar um
projeto ao Congresso com o objetivo de dar "retaguarda jurídica" para
que os policiais possam utilizar armas de fogo em operações sem serem procesados. Para ele, a violência cairá
"assustadoramente" se houver excludente de ilicitude na proteção da
vida, da propriedade e do patrimônio.
- Os caras vão
morrer na rua igual barata, pô. E tem que ser assim - declarou Bolsonaro. A
entrevista foi concedida na última quinta-feira e publicada hoje pela manhã.
O presidente afirmou que não se acaba com a violência
facilmente, mas destacou que a presença dele e do ministro da Justiça e da
Segurança Pública, Sergio Moro, "dando exemplo", já diminuiu estes
índices "em torno de 24%". De acordo com o "Monitor da Violência"
criado pelo G1, com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito
Federal, o número de mortes violentas caiu 24% no Brasil no primeiro trimestre
desse ano em relação ao mesmo período de 2018.
- Como cai
mais? Está desequilibrado, o bandido tem mais direito do que o cidadão de bem.
Eu estou mandando um projeto, que vai ter dificuldade de ser aprovado, mas não
tem outra alternativa. Nós temos que dar uma retaguarda jurídica para as
pessoas que fazem a segurança: policial civil, militar, federal, rodoviário. Em
operação, o pessoal tem que usar aquela máquina que tem na cintura, ir para
casa e no dia seguinte ser condecorado, não processado - disse.
Ao ser
indagado sobre o caso do morador de rua Plácido Correa de Moura, de 44 anos,
preso no dia 28 do mês passado acusado de ter matado a facadas dois homens na
Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio, Bolsonaro afirmou que "a
faca é pior do que o tiro". E lembrou da própria declaração, no dia
seguinte, "de que não tinha ninguém armado para dar um tiro nele". Em
seguida, afirmou que, se estivesse armado no local, teria atirado.
- E eu falei,
faltou uma arma na mão de alguém para abater o bandido de rua. E eu apanhei. Se
eu tivesse armado ali, teria atirado naquele cara. O próprio policial que
chegou ali depois atirou na perna. Tinha que ter atirado no meio dele, pô. A
gente vê de vez em quando o cara que leva tiro na perna e reage ainda. Você
agindo dessa maneira e o policial tendo a garantia de que não vai ser preso,
não vai responder a processo, o bandido pensa duas vezes antes de fazer
besteira - disse.
Na mesma
linha, ele rememorou o caso do cunhado da apresentadora Ana Hickmann, Gustavo
Correa, que foi denunciado por homicídio doloso por matar o autor de um
atentado contra Ana e sua mulher, que é assessora dela. Um suposto
"fã" rendeu os três em um hotel em Belo Horizonte, em 2016. Ele foi
morto por Correa após atirar contra sua esposa. O Tribunal de Justiça de Minas
Gerais concluiu que o cunhado da apresentadora agiu em legítima defesa.
- Um canalha, bandido, entra num hotel. Dá dois tiros numa
senhora. O cunhado da Ana Hickmann pega esse cara, toma a arma dele, e naquela
briga no chão dá três tiros na nuca do cara. Está sendo processado por excesso.
Vai para tribunal de júri. E já tem anos esse processo aí. O Ministério Público
de Minas Gerais recorrendo o tempo todo. Qual exemplo que nós estamos dando?
Que crime compensa.
- Se um cara
entrar na sua casa, você tiver uma arma, legal, você pensar para atirar nele,
você está morta. Você tem que atirar nele. O cara tem que saber que se invadir
uma propriedade privada, ele vai ter uma reação. E esse projeto nosso vai
entrar nesse lado também - afirmou o presidente.
A jornalista
perguntou então se ele conseguiria aprovar o projeto no Congresso e Bolsonaro
disse que já garantiu a posse de arma para o "homem do campo",
acrescentando:
- Mas a partir
do momento que eu entro no excludente de ilicitude, ao defender a minha vida e
a de terceiros, a minha propriedade ou de terceiros, o meu patrimônio ou de
terceiros, a violência cai assustadoramente.
Sem Garantia da Lei e da Ordem
O presidente
disse ainda que não pretende editar novos decretos de Garantia da Lei e da
Ordem (GLO), autorizando o emprego das Forças Armadas na segurança pública,
enquanto não conseguir aprovar a mudança na legislação. E comentou que não tem
autorizado as medidas porque tem que ter responsabilidade sobre o futuro dos
militares.
- Se o
Congresso me der essa liberdade, para os militares agirem, eu boto a tropa na
rua. Eu não vou visitar meu sargento, meu cabo, meu coronel na cadeia -
afirmou.
- Se não
conseguir aprovar, a BIC não tem GLO. [Os parlamentares] Se entendam com a
população. E eu consigo convencer todo mundo, porque pode ser teu filho que
está prestando o serviço militar obrigatório, pode ser o teu marido, que é
sargento do Exército, teu cunhado, que é capitão da Marinha, tá? Estamos todos
nós envolvidos... nós queremos vencer essa batalha - acrescentou, apontando
para a câmera.
Bolsonaro deu
como exemplo policiais que o acompanharam nos tempos de deputado federal que
temiam que eventuais vítimas de criminosos testemunhassem contra eles caso os
algozes fossem mortos em uma ação.
- Ela pode até
falar: ele só queria meu relógio, ele é uma vítima da sociedade'. Vai ser uma
testemunha contra nós. É verdade, é verdade. Agora [em] uma ação como essa, nós
temos que interferir ou intervir, não interessa o que aquela pessoa na frente
vai falar, nós temos que abater esse cara.
Ele concluiu
lembrando do ex-prefeito de Cariacica (ES), conhecido como Cabo Camata, que era
da Polícia Militar e faleceu no ano 2000.
- Como ele já
morreu, eu posso falar. Tinha muito assalto a ônibus. Ele começou a pegar os
colegas dele da reserva --outros tempos, né?, melhor do que hoje no tocante à
segurança, muito melhor do que hoje -- e começou a botar dois, três atrás do
ônibus, descaracterizado. Quando o cara anunciava o assalto, pimba. Pô, matou
três, quatro, acabou o assalto a ônibus. Vagabundo não foi mais assaltar
ônibus, acabou assalto a ônibus. Está chegando num ponto tal que você é
obrigado a agir dessa maneira - disse Bolsonaro.
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