Sob supervisão da mãe, David acompanha trabalho de garis na rua de casa — Foto: Lucas Vieira / G1 |
O que você lembra de quando tinha três anos de idade? Provavelmente
flashes de uma festa de aniversário, um passeio ou um momento em família. Já o
menino David, hoje com essa idade, tem tudo para lembrar de que nessa fase da
vida tinha verdadeiro fascínio pela rotina dos coletores de lixo e que encantou
todos que viam o brilho nos olhos ao ajudar o próprio bairro ficar mais limpo.
Ele mora com a mãe e o padrasto no bairro Parque Vitória, em São José de
Ribamar, na Região Metropolitana de São Luís. Tímido, David ainda não sabe
muito bem como expressar o gosto por essa profissão nem entende muito bem
porque é tão paparicado por isso. Mas pela animação nas palavras soltas ao
falar dos 'amiguinhos' (como chama os garis), apenas acha divertido e ponto.
"Tudo começou quando ele tinha
dois anos. Toda vez que ele olhava um caminhão de lixo, queria parar para
olhar. Se ele estivesse de bicicleta, no ônibus, no colo, ela fazia a gente
parar para observar. Hoje, quando ele vê, fica naquela euforia e sempre chora
quando o caminhão vai embora", explica a mãe de David, Carla Oliveira, que
trabalha como babá.
Como incentivo para que David continue admirando a profissão, ganhou um
uniforme de coletor feito pela avó e até um aniversário temático. "Quando
resolvi fazer o aniversário dele de 'carro do lixo', muita gente questionou.
Mas ele gosta disso. Preferi fazer algo que ele se sentisse à vontade, do que
fazer do meu jeito e ele não gostar", conta a mãe.
O serviço de limpeza da região passa, diariamente, na rua da família às 8h30.
O mesmo horário que David se veste à caráter para ajudar os garis a recolherem
o lixo acumulado da rua. Sempre com a supervisão da mãe e o cuidado dos
profissionais que se sentem homenageados pelo pequeno. "Nossa profissão é
meio discriminada, mas espero que ele conheça mais [a ocupação] e seja feliz,
honesto", comentou um deles.
Nas horas vagas,
David se diverte nos ensaios de Bumba-Meu-Boi que a família participa. A mãe
diz que o menino adora ser o miolo do boi, mas nada que se compare à animação
dele ao avistar o 'caminhão do lixo'.
"Eu nunca
desestimulei meu filho a gostar dos coletores. Quero que ele seja o que deixar
ele feliz. Não tem profissão melhor que a outra. Um médico não é melhor que um
gari, uma babá não é melhor, um advogado, um jornalista não é melhor que um
coletor de lixo. Cada um faz a sua a parte", lembra a mãe.
Ainda que falte
muitos anos para David precisar escolher uma profissão, não são poucas as
lições que, aos três anos recém-completados, o garoto ensina para os mais mais
velhos. Se vai seguir, mesmo, essa carreira, o tempo dirá, mas com tantas
fotos, vídeos e, agora, uma reportagem, vai ser difícil essa não ser uma das
principais lembranças da infância de David no futuro.
G1
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